SUSHI NO JAPÃO VS BRASIL: AS DIFERENÇAS QUE SÓ QUEM MOROU NOS DOIS PAÍSES CONHECE
Tive o privilégio de morar tanto no Japão quanto no Brasil, e uma das coisas que mais me chama atenção até hoje é como o sushi, um dos pratos mais tradicionais da culinária japonesa, se apresenta de maneiras tão diferentes em cada país. Muita gente por aqui acha que está comendo “o verdadeiro sushi japonês” ao ir a um restaurante japonês, mas a realidade é que o sushi no Brasil ganhou adaptações tão profundas que, para quem já viveu no Japão, parece quase outro prato.
Para começar, o tamanho dos sushis é uma diferença gritante. No Japão, os niguiris (aqueles bolinhos de arroz com uma fatia de peixe por cima) são pelo menos o dobro do tamanho do que costumamos ver nos restaurantes japoneses brasileiros. Eles são generosos, bem proporcionados, e fazem jus ao nome “sushi de verdade”. Além disso, o arroz é preparado de forma mais delicada: o sabor do vinagre de arroz é mais presente, e existe uma leve doçura no tempero – algo sutil, mas que faz toda a diferença. É um arroz mais úmido, menos seco que o brasileiro, e sempre muito bem moldado.
Outro ponto curioso é que, na maioria das vezes, já vem uma pequena porção de wasabi entre o arroz e o peixe. Isso faz parte da tradição japonesa, e muitos estrangeiros se assustam com o ardor repentino se não estiverem avisados. Já no Brasil, o wasabi costuma vir separado, e nem sempre é o verdadeiro – muitas vezes é um creme feito à base de raiz-forte colorido de verde, já que o wasabi original é caríssimo e difícil de encontrar por aqui.
Agora, ingredientes como cream cheese, morango, goiabada, couve crocante e até leite condensado, que são comuns nos sushis brasileiros, simplesmente não existem no Japão. Lembro bem da primeira vez que vi um “hot roll de morango com cream cheese” no Brasil e pensei: “isso não pode ser sério!” É claro que entendo a lógica por trás dessas adaptações. O brasileiro adora misturas ousadas, texturas crocantes e sabores adocicados. Mas, do ponto de vista de quem viveu a tradição japonesa, isso é quase uma heresia gastronômica.
Temaki é outro exemplo. No Japão até existe, mas é muito raro. Costumava ver de vez em quando, geralmente como algo feito em casa, para refeições mais informais, e não como prato típico em restaurantes. Aqui no Brasil, ele virou estrela principal em muitos cardápios de restaurante japonês: tem temaki para todos os gostos, de salmão com catupiry a camarão empanado com doritos. E tudo isso servido com muito molho tarê, outro item que não é tão comum nos restaurantes tradicionais japoneses.
Durante o tempo que morei no Japão, costumava comprar bandejas de sushi em mercados de bairro. Eram práticas, frescas e acessíveis. As bandejas normalmente vinham com seis unidades: atum, salmão, camarão, tamagoyaki (omelete japonesa), e outros dois tipos que variavam – às vezes um peixe branco, às vezes lula ou polvo. Nunca vinham acompanhadas de shoyu em excesso, e o sushi era pensado para ser comido em poucas mordidas, com respeito ao sabor original de cada ingrediente.
Outro ponto que vale ressaltar é que, diferente do que muitos pensam, o japonês não come sushi todo dia. O sushi é apenas uma parte da vasta culinária japonesa. O cotidiano alimentar no Japão inclui pratos como lámen, curry rice, donburi, yakisoba, gyoza, e claro, muitos alimentos de origem ocidental. Lembro-me claramente de comer feijoada no Japão, feita por brasileiros locais, e embora fosse muito saborosa, não há como comparar com aquela feita em casa, no Brasil, com todos os ingredientes frescos e o tempero que só a nossa terra tem.
A cultura alimentar japonesa é rica, equilibrada e cheia de significados. Os pratos são pensados não só pelo sabor, mas também pela harmonia, textura, cor e apresentação. Já o Brasil tem sua criatividade única, sua paixão pela inovação e pelo exagero – e isso também tem seu valor. A forma como o sushi foi abrasileirado é um reflexo da nossa identidade: alegre, diversa e sem medo de misturar.
No fim, aprendi que não existe certo ou errado, mas sim diferentes formas de apreciar a mesma ideia. O sushi brasileiro não é pior, nem melhor. Ele apenas conta uma outra história. E quem, como eu, teve a oportunidade de experimentar os dois mundos, sabe apreciar cada um do seu jeito.